sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Não deixe o pensamento crítico morrer!

 


O pensamento crítico é uma ação mental basilar para o ser humano viver melhor, tomar decisões, manter sua liberdade e progredir intelectualmente.

Paradoxalmente, ele vem perdendo espaço na sociedade atual, substituído por informações e opiniões rápidas e superficiais, como sendo superiores ao pensamento mais estruturado e lógico que exige mais tempo e foco.

Isso se reflete também com relação ao Espiritismo e seus ambientes de experiências doutrinárias.

Não se trata: julgar pessoas, atacar, polarizar (falar mal). É um hábito mental de conferir informações antes de acreditar, para decidir melhor e preservar a liberdade interior. Criticar apenas aponta defeitos; pensar criticamente aponta direção. É musculação do cérebro: com treino, a decisão fica mais sólida e correta.

Pensamento crítico no Espiritismo é um aliado da fé raciocinada. Ele incentiva a aplicação de ferramentas para analisar, questionar e avaliar a consistência e consequências de suas crenças e práticas, buscando compreensão objetiva e discernimento, em vez de aceitação passiva. Envolve analisar argumentos, desconstruir raciocínios imperfeitos, avaliar a veracidade de informações doutrinárias e questionar as próprias suposições dentro de um contexto de fé, promovendo uma visão mais fundamentada e consciente das questões espirituais.

Por que isso importa (hoje, mais do que nunca)?

Vivemos com um “Oráculo de Delfos de bolso” – a tecnologia responde tudo, rápido, e os algoritmos nos cercam de opiniões iguais às nossas (as famosas câmeras de eco). A pressa e a multitarefa, opressores da sociedade atual, dão a ilusão de produtividade, mas impedem o raciocínio mais profundo e estruturado.

O que dificulta o pensamento crítico no espiritismo

O pertencimento identitário e comunitário. Frequentadores são tratados como “irmãos”, “cristãos unidos na fé”. O Centro Espírita é uma comunidade disciplinadora, baseada em vínculos afetivos. Os encontros (cultos?) semanais e os grupos de oração e passes fortalecem os afetos, mas geram um clima desfavorável para o pensamento crítico.

A proposta de autoaperfeiçoamento moral (reforma íntima), muitas vezes simplificada em excesso, embora estimule um novo olhar sobre suas ações e pensamentos, por outro lado, promovem o distanciamento do pensamento crítico aplicado no conhecimento doutrinário e nas bases de sua fé que deveria ser raciocinada.

No ambiente espírita, isso choca com a essência kardeciana: investigar, comparar, usar a lógica e a observação metódica, para construir uma base sólida de pensamento e a agir em conformidade. A casa espírita pede silêncio e aceitação. Não há espaço para questionamento nem mental.

Sinais de alerta em um raciocínio

  • Uso de falácias, com o apelo à autoridade (“Kardec disse”).
  • Analogia conveniente para substituir a evidência.
  • Ambiguidade que força um direcionamento
  • Presença de hipérboles (exagero intencional)
  • Generalizações (“sempre”, “todos”).
  • Conclusões que não seguem das premissas.

Não importa quem tenha afirmado qualquer coisa. Pode ter sido Bezerra, Emmanuel, André Luiz ou mesmo o próprio Kardec. Questione sempre: Quando? Qual é a fonte? Confiável? Problemas com edição ou tradução? Em que contexto? Quais as referências? Com que objetivo? Altera conceitos estabelecidos? Está coerente com o conhecimento espírita?

No início vai parecer complexo, mas com o exercício será uma atitude mental fluindo naturalmente.

O que é necessário  

  • Cultivar a curiosidade intelectual de conhecer sempre mais, de não se contentar com a primeira explicação.
  • Desenvolver e usar diariamente a autorreflexão para questionar as próprias crenças e valores.
  • Manter a receptividade para ideias diferentes, estando aberto a novas perspectivas e à possibilidade de mudanças de opinião.

O pensamento crítico no Espiritismo, aplica ferramentas do raciocínio livre às crenças, práticas e informações doutrinárias, visando coerência, evidências, contexto e consequências. Ele afasta a fixação no monoideísmo, que pode introduzir um fundamentalismo emocional impermeável ao questionamento, produzindo intolerância e distanciamento.

Este artigo é um convite para você espírita, estudante, frequentador ou trabalhador, a treinar o pensamento crítico como um ato de fidelidade à fé raciocinada. Estimule a curiosidade, formule perguntas, confronte ideias com fontes sólidas, acolha contrapontos respeitosos

Aproveite a tecnologia da Inteligência Artificial para aprofundar e comparar, mantendo sua liderança nas pesquisas e conclusões.

Pensar criticamente aumenta a clareza dos conceitos, evita simplificações ambíguas e corrige enganos bem-intencionados. Bom senso, ponderação e persistência como percebemos em Kardec.

Pergunte com fraternidade, avalie com honestidade, decida com humildade. A doutrina agradece. 




domingo, 28 de setembro de 2025

Somos todos alienígenas?

 


(Reencarnação, demografia histórica e a hipótese de migrações espirituais entre mundos)

Este ensaio se inicia com a pergunta: Quantas reencarnações já tivemos na Terra?

A curiosidade é geral. Temos interesse em saber quantas vidas tivemos, em que regiões vivemos, que línguas falamos, profissões que tivemos, habilidades, competências, nossos gostos e preferências, nossas amizades e amores, coisas boas vividas, felicidades.

Entretanto, existe também o outro lado. O quanto sofremos, o quanto demoramos para aprender, ou até não conseguimos aprender, as pessoas que magoamos, as tristezas que tivemos, os acessos de ódio e loucura, o que fizemos de errado, o que deixamos de fazer, as experiências que nos marcaram e ainda hoje influenciam nosso modo de ser.

A vida é um processo dentro do determinismo divino de evoluir e conquistar gradativamente novos níveis de entendimento, de sentimentos, moral e vivência da felicidade interior. A reencarnação é um instrumento de aprendizado que ocorre em todos os aspectos e direções.

Nossa origem é a dimensão espiritual. O Espírito aprende e evolui em qualquer lugar que esteja. As encarnações são como uma escola em que passamos um tempo para aprender algumas lições, mas não todas, pois temos muita coisa a aprender e precisamos de escolas diferentes.

Para a maioria dos Espíritos que já se decidiram a serem bons, melhorarem e se tornarem cada vez mais úteis, a chamada erraticidade, o mundo espiritual, é onde aprendemos bastante, principalmente nos aspectos intelectuais. Temos mais oportunidades de receber orientação de Espíritos mais adiantados, de frequentar escolas e, principalmente, de utilizar mais intensamente os nossos recursos de inteligência sem a intermediação do cérebro, nervos e percepções amortecidas pela matéria.

Na linha de evolução podemos supor que, inicialmente, os Espíritos tendem a precisar mais da encarnação, para no final, ou mais adiante dessa linha, não ter tanta necessidade.

Existem Espíritos desequilibrados que permanecem sem encarnar por séculos, assim como permanecem na espiritualidade muitos Espíritos bons.

Quantas reencarnações já tivemos na Terra? A curiosidade é legítima. Do ponto de vista espírita, a vida é um processo pedagógico regido por Leis Divinas: crescemos por meio de experiências que ampliam inteligência e sentimento. A reencarnação é um instrumento central desse aprendizado, e a erraticidade — a vida espiritual entre encarnações — também é escola, sobretudo para estudo, orientação e planejamento.

A resposta dessa questão se baseia em três cenários heurísticos de ciclo reencarnatório para um teste de plausibilidade: ainda que um Espírito possa encarnar muitas vezes em 10 mil anos, os nascimentos disponíveis na Terra — especialmente antes do século XIX — não permitem oportunidade igual para todos. A consequência, coerente com a tradição kardeciana, é uma população espiritual heterogênea e móvel, com necessárias migrações entre mundos ao longo dos milênios.

“No Universo infinito, a Terra é apenas uma sala de aula”

Esse estudo levou em conta os seguintes dados:

  • Homo sapiens: ~300 mil anos atrás.
  • Civilizações urbanas e escrita: ~5–6 mil anos.
  • Agricultura e sedentarização: ~10–12 mil anos.

Aumento populacional na Terra

Marco temporal

População aproximada

10.000 a.C.

~5.000.000

1 d.C.

~190.000.000

1800

~1.000.000.000

1900

~1.650.000.000

1950

~2.500.000.000

2000

~6.100.000.000

Hoje

~8.100.000.000

A evolução espiritual do homem primitivo certamente ocorreu de forma incipiente e extremamente vagarosa. Por essa razão, foi selecionado o período dos últimos 10 mil anos que levou ao surgimento da sedentarização e das primeiras cidades, proximidade social e fortalecimento da família, desenvolvimento racional, criação de ferramentas, desenvolvimento de civilizações complexas, aumento da produção de alimentos, e a expansão populacional. Período civilizatório da humanidade.

Linha do tempo essencial

   ~300 ka: surgimento do Homo sapiens.

   ≥50 ka: intensificação do comportamento simbólico.

   ~12–10 ka: agricultura e sedentarização.

   ~6–5 ka: cidades, Estados e escrita.

   População (aprox.): 10.000 a.C. ~5 mi • 1 d.C. ~190 mi • 1800 ~1,0 bi • 1900 ~1,65 bi • 1950 ~2,5 bi • 2000 ~6,1 bi • hoje ~8+ bi.

É tentador supor um ciclo fixo (vida + intervalo espiritual). Mas a literatura doutrinária indica grande variabilidade conforme as condições morais, provas, missões, estagnações e contextos históricos. Portanto, melhor adotar cenários ilustrativos (heurísticos), apenas para organizar o raciocínio:

Três cenários

A (80 anos)

B (150 anos)

C (250 anos)

Ritmo curto; muitas passagens recentes

Meio-termo plausível

Intervalos longos; foco em estudo/planejamento

Mesmo que um Espírito pudesse encarnar dezenas de vezes em 10 mil anos, não há como todos terem o mesmo número — simplesmente porque faltariam nascimentos durante longos períodos em que a população humana foi pequena.

  • A distribuição real é assimétrica: alguns com mais vidas na Terra nesse intervalo, outros com poucas (ou nenhuma), outros em longos hiatos.
  • O “coorte espiritual terrestre” não é fechado: ao longo dos milênios, há entradas e saídas — e a pluralidade dos mundos habitados demonstra sua utilidade.

Consequências doutrinárias

  1. Heterogeneidade individual: trajetórias muito distintas (intervalos curtos/longos, missões, estagnações).
  2. Migrações entre mundos: a pluralidade dos mundos não é só geográfica; é pedagógica. Espíritos circulam por esferas compatíveis com seu mérito e necessidade (condições evolutivas). Isso concilia bastante a capacidade individual de encarnar com a oferta histórica limitada de “vagas” na Terra em muitos períodos.

Conclusão — provocativa

O estágio atual da humanidade não requer que todos tenhamos reencarnado muitas vezes exclusivamente na Terra nos últimos 10 mil anos. Os dados populacionais sugerem fortemente uma circulação espiritual entre mundos, com entradas e saídas no tempo. Em vez de “nativos” estritos, talvez sejamos, em boa medida, viajantes do infinito — alguns de longa data por aqui, outros mais recentes, outros de partida.

A soma de vidas possíveis não cabe nas vagas disponíveis para encarnação.

 Havia feito esse estudo quase dez anos atrás, chegando à conclusão didática da média de 25 encarnações dos últimos dez mil anos. Submeti agora à Inteligência Artificial (ChatGPT 5.0) que trouxe novos elementos, o que resultou nessa atualização.

Mas, afinal qual é o número de encarnações na Terra?

Depende do cenário ou da frequência:

  • Alta frequência (ciclo curto, forte vínculo à Terra): 15–35 vidas em 10 mil anos.
  • Média frequência (ciclo ~intermediário): 8–22 vidas.
  • Baixa frequência (ciclo longo, hiatos maiores ou parte fora da Terra): 4–12 vidas.

A maioria ficaria na faixa média entre ~6 e ~20.

Vamos considerar agora o atual estágio evolutivo da humanidade. Difícil, não é? Mesmo assim, podemos inferir que não somos muito melhores do que as pessoas do século I, por exemplo. Temos mais intelecto e mesmo senso moral, não obstante a enxurrada de violências publicadas pela mídia.

Podemos usar a classificação de Kohlberg (1) na sua Teoria de Desenvolvimento Moral:

Sobre os estágios do desenvolvimento moral

Nível A - Pré-convencional (Estágios 1 e 2): A moralidade está ligada à obediência e ao autointeresse, onde as regras são determinadas pelas autoridades, como os pais ou figuras de poder.

Nível B - Convencional (Estágios 3 e 4): Aqui, as pessoas passam a valorizar as relações interpessoais, bem como as normas sociais. As regras são importantes, mas também há consideração pelas expectativas da sociedade.

Nível C - Pós-Convencional (Estágios 5 e 6): Neste estágio, a pessoa começa a internalizar seus próprios princípios éticos e morais, às vezes divergindo das normas sociais se estas violarem princípios éticos mais profundos. Passam a considerar os diferentes valores, opiniões e crenças de outros.

Nessa teoria, a humanidade parece estar dividida em todos esses estágios. A maior parte vivendo os níveis A e B, mas com uma parte também nos estágios 5 e 6. Parece razoável.

A questão de fundo é: podemos avançar do Nível A, para os subsequentes em poucas encarnações? A lógica e a literatura espírita apontam para um caminho muito longo com muitas reiterações.

O arremate desse raciocínio é que não temos origem no planeta Terra e que tivemos mais encarnações em outros mundos! Isto é um ensaio opinativo com o propósito de oferecer uma análise crítica sobre um tema.

Brincadeiras à parte, somos todos alienígenas!


Mini glossário

Erraticidade - Vida do Espírito fora do corpo físico, entre encarnações.

Coorte espiritual terrestre - Conjunto de Espíritos em relação com a Terra em um período dado (encarnados + desencarnados).

Migração entre mundos -   Deslocamentos educativos por afinidade/necessidade, coerentes com a pluralidade dos mundos.

 

Nota de omissão. Todo este raciocínio foi desenvolvido sem considerar a informação da literatura espírita (2), de que há muito mais Espíritos desencarnados do que encarnados. Caso se admita esta hipótese, a conclusão sobre migrações entre mundos fica ainda mais reforçada — mas deixamos essa informação fora da linha de raciocínio, para manter o texto mais crível aos olhares mais resistentes.

Nota metodológica — probabilidade de “mundos-escola” parecidos com a Terra

Por que supor destinos compatíveis ao perispírito?

Nas últimas três décadas confirmamos mais de 6.000 exoplanetas e o número cresce a cada semana, indicando que planetas são comuns na galáxia [NASA].

Estudos a partir do Kepler estimam que uma fração não desprezível de estrelas tipo Solar possuam planetas rochosos na zona habitável (cenários variam conforme critérios e correções estatísticas). Trabalhos clássicos encontraram taxas na casa de ~20% para “Terralikes” (planetas parecidos com a Terra). Em síntese: há muitas “salas de aula” potencialmente preparadas.

Como a Via Láctea tem centenas de bilhões de estrelas (ordem de 10¹¹), mesmo taxas modestas implicam bilhões de candidatos a ambientes terrestres. Logo, não é especulação gratuita supor mundos compatíveis para encarnações pedagógicas, exigindo ajustes menores do perispírito do que migrações para biosferas radicalmente diferentes.

Um argumento biológico

A convergência ecológica, ou evolução convergente/adaptativa, descreve o surgimento de características semelhantes (morfológicas, fisiológicas ou comportamentais) em organismos sem parentesco próximo, devido a pressões ambientais ou ecológicas semelhantes.

Por analogia, biosferas temperadas podem convergir para morfologias e ecologias funcionais semelhantes, facilitando a adaptação perispiritual. É uma inferência, mas amparada por um princípio evolutivo bem documentado.

Ivan Franzolim


(1)     Lawrence Kohlberg (1927 – 1987), psicólogo e professor Universidade de Chicago e Harvard.

(2)     EMMANUEL. Roteiro. Psicografia de Chico Xavier. Rio de Janeiro: FEB, 1952. [Ano com população de 2,5 bilhões de pessoas e 20 bilhões desencarnados]

 






sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Espiritismo e Astronomia — somos importantes ou insignificantes?

 


Imagem da NASA

Poeira de estrelas no tamanho, eternidade no propósito.

A Astronomia nos devolve perspectiva. Diante do cosmos, somos um grão de areia na praia do infinito; diante de Deus, somos projeto, propósito e responsabilidade.

A medida do assombro (explicação simples)

  • O Universo observável tem algo como dezenas de bilhões de anos-luz de raio; costuma-se falar em ~46 bilhões de anos-luz de raio (cerca de 93 de diâmetro).
  • A Via Láctea reúne centenas de bilhões de estrelas. O Sol é uma entre elas — médio, discreto, fundamental.  Há estrelas mais de 2 mil vezes maiores.
  • Para cruzar nossa galáxia à velocidade da luz, seriam necessários ~100 mil anos.
  • Estimam-se centenas de bilhões de planetas só na Via Láctea; centenas de milhões podem ter condições semelhantes às da Terra.
  • Nossas sondas mais velozes (as Voyagers) andaram algumas dezenas de horas-luz desde 1977 — um passo de formiga no mapa do céu.

Conclusão imediata: somos minúsculos. E, no entanto, tudo isso existe sob Leis que revelam Inteligência e Finalidade — exatamente onde a Filosofia Espírita começa a conversa.

A boa analogia (ponte entre ciência e Doutrina)

Podemos pensar numa orquestra sinfônica:

  • A Astronomia descreve o palco (o Universo), o repertório (as leis físicas) e a partitura (constantes, campos, partículas).
  • O Espiritismo recorda que há músicos (Espíritos imortais), maestro (Deus, causa primária) e um propósito estético e moral (Lei de Progresso).
  • Cada instrumento parece pequeno diante do todo, mas sem cada um não há sinfonia. A nossa “insignificância” é apenas dimensional, não existencial.

Avançando...

Deus e Leis

Deus não é um gerente de imprevistos; é Soberana Inteligência que estabelece Leis universais (morais e naturais). O “cuidado” divino se manifesta por leis estáveis que sustentam a evolução de mundos e seres — determinismo das leis por fora, livre-arbítrio por dentro. Evoluímos porque as leis garantem o cenário, e como escolhemos define o ritmo dessa marcha.

Pluralidade dos Mundos Habitados

A vastidão astronômica torna a pluralidade mais que plausível: é consequência do princípio de finalidade. Não sabemos quantos “condomínios da Vida” há por aí, mas sabemos que não se desperdiça espaço em obra divina. A Lei de Progresso sugere múltiplas moradas, múltiplas escolas, múltiplas séries no currículo do Espírito.

Importância x Insignificância

  • Insignificância: perante a escala cósmica, nosso corpo, nossa cidade, nosso planeta são diminutos pontos.
  • Importância: perante a Lei, o Espírito é fim e meio da obra — fim, porque se destina à felicidade; meio, porque coopera na cocriação em plano menor (inteligência que organiza, ama, serve, transforma). Deus não criaria ao acaso nem concederia imortalidade a quem não tivesse sentido e missão.

Números espirituais?

Na Terra, somos mais de 8 bilhões de encarnados e, provavelmente, muito mais desencarnados em faixas diversas do plano espiritual. Mas números, aqui, são ilustrativos; o que importa é a dinâmica moral: vínculos, aprendizados, resgates e serviço — estatística íntima que a consciência contabiliza.

Síntese em três frases

·         Cosmicamente pequenos; moralmente chamados.

·         Leis firmes por fora; liberdade responsável por dentro.

·         Insignificantes em tamanho, indispensáveis em sentido.

Somos importantes, sim: obras de Deus com destino de luz. Somos insignificantes, sim: pó de estrelas viajando numa periferia galáctica. Mas é nesse aparente paradoxo que mora a beleza: grãos de poeira conscientes, convidados a aprender a música do Universo e a tocar a nossa parte — afinados com a Lei, compassados pelo amor, e sempre, sempre em progresso.


terça-feira, 16 de setembro de 2025

Análise dos Títulos de Livros Espíritas


 “Mais que palavras, os títulos refletem tendências, influências e o futuro da literatura espírita no país.”

Introdução

A literatura espírita brasileira constitui um patrimônio cultural de grande relevância, refletindo a evolução do movimento espírita ao longo de mais de um século. Uma lista de 7.832 títulos atualmente em circulação oferece a oportunidade de identificar tendências, ausências e peculiaridades da produção nacional.
Este artigo propõe-se a analisar o conteúdo simbólico e temático dos títulos, considerando-os como indicadores das preocupações, valores e prioridades do Espiritismo no Brasil. A investigação evidencia tanto a riqueza do material produzido quanto lacunas que podem orientar reflexões para o futuro.

Objetivos

  • Mapear as palavras e temas mais recorrentes nos títulos espíritas brasileiros.
  • Categorizar a produção em eixos temáticos (místico, religioso-devocional, bíblico-evangélico, doutrinário-filosófico, autoajuda espiritual, histórico-biográfico, juvenil).
  • Identificar ausências significativas, sobretudo em áreas ligadas à investigação crítica, filosofia e diálogo com a ciência.
  • Estimular o debate sobre como a literatura espírita pode recuperar o espírito de pesquisa e questionamento presente em Kardec e na Revista Espírita.

Metodologia

  1. Corpus analisado: lista com 7.832 títulos de obras espíritas brasileiras (excluídas obras de Kardec e de autores estrangeiros).
  2. Análise lexical: identificação das palavras mais frequentes nos títulos, desconsiderando artigos e preposições.
  3. Classificação temática: agrupamento dos títulos em categorias semânticas a partir de palavras-chave.
  4. Análise crítica: comparação entre os temas recorrentes e aqueles esperados de uma doutrina que se declara investigativa, aberta ao progresso das ideias e da ciência.
  5. Interpretação: contextualização dos resultados dentro da história do movimento espírita brasileiro.

 “Cada título é uma porta aberta para compreender como pensamos, sentimos e vivemos a espiritualidade.”

Desenvolvimento temático (esboço inicial)

Conceitos mais frequentes

  • Amor, vida, espírito, luz, Jesus, coração, Deus, esperança, perdão.
  • Predominância de termos afetivos e cristãos-evangélicos.


30 palavras mais frequentes nos títulos

(excluídas preposições e artigos comuns como “de”, “em”, “para” etc.)

  1. Amor
  2. Vida
  3. Espírito / Espírita / Espiritismo
  4. Luz
  5. Jesus
  6. Alma / Almas
  7. Coração
  8. Deus
  9. Evangelho
  10. Cristo / Cristã(o)
  11. Morte / Desencarnação
  12. Esperança
  13. Família
  14. Céu
  15. Terra
  16. Tempo
  17. Criança / Juventude
  18. Saudade
  19. Libertação / Liberdade
  20. Consciência
  21. Paz
  22. Perdão
  23. Saúde / Doença / Depressão
  24. Reencarnação / Vidas passadas
  25. Mensagem / Cartas
  26. História / Histórias
  27. Caminho / Caminhos
  28. Obssessão / Desobsessão
  29. Mediunidade / Médiuns
  30. Lar / Casa


Distribuição temática

  • Doutrinário-filosófico: 35%
  • Religioso-devocional: 20%
  • Bíblico-evangélico: 15%
  • Autoajuda espiritual/psicológica: 12%
  • Histórico-biográfico: 8%
  • Juvenil/infanto-juvenil: 6%
  • Místico/esotérico: 4%

Ausências significativas

  • Escassez de títulos sobre método científico, crítica doutrinária, questionamento filosófico.
  • Pouquíssimas referências à Revista Espírita ou aos clássicos além da Codificação.
  • Raridade de diálogos com autores como Léon Denis, Delanne, Flammarion.

 Interpretação cultural

  • A literatura espírita brasileira privilegia a função consoladora e religiosa, em detrimento da função investigativa e filosófica.
  • Isso molda o público leitor, reforçando sentimentos e devoção, mas limitando o estímulo à crítica construtiva.

Temas raros ou praticamente ausentes

Investigação crítica e questionamento

  • São raríssimos títulos com ênfase em debate, crítica construtiva ou revisão doutrinária.
  • Exceções pontuais: “Repensando o Movimento Espírita no Brasil”, “Revisão ou Reafirmação do Espiritismo”, “Revisão do Cristianismo”
  • Mas a regra geral é a ausência desse tom investigativo que deveria ser natural numa Doutrina que não se considera “palavra final”.

Revista Espírita e fontes históricas

  • Há um ou outro título que cita explicitamente Kardec fora da Codificação, como “Resumo Analítico das Obras de Allan Kardec” 
  • Entretanto, referências diretas à Revista Espírita ou a estudos comparativos com Léon Denis, Delanne, Gabriel Dellane etc. são praticamente inexistentes.

Pesquisa filosófica aprofundada

  • Poucos títulos remetem a estudos sistemáticos de filosofia, lógica ou epistemologia.
  • A filosofia aparece diluída em termos como “destino”, “consciência”, “vida”, mas sem esforço de aprofundamento crítico.

Temas de ciência e metodologia

  • Embora haja títulos com “ciência”, “psicologia”, “física quântica”, eles aparecem muito mais como tentativa de legitimação do Espiritismo perante a ciência do que como um diálogo investigativo.
  • Títulos que abordem “método científico”, “crítica de fontes” ou “estudos comparativos” são praticamente inexistentes.

 O que isso sugere?

  • A literatura espírita brasileira priorizou consolo, fé e evangelho em vez de crítica, pesquisa e filosofia comparada.
  • O movimento editorial valoriza muito mais o emocional (esperança, saudade, amor, luz) do que o racional investigativo.
  • Há uma lacuna formativa: o leitor espírita tem fartura de romances, mensagens e livros de consolo, mas quase nenhuma oferta de obras que o estimulem a questionar, comparar fontes, analisar metodologicamente.

 Caminhos para preencher essa ausência

Incentivar obras críticas e investigativas que dialoguem com a Revista Espírita e com autores clássicos além de Kardec.

Produzir títulos que tragam questões abertas:

·  “O que ainda não sabemos sobre o perispírito?”

·  “O Espiritismo resiste ao método científico?”

·  “Comparações entre a Revista Espírita e a literatura atual”.

Promover a ideia de que questionar é a forma de estimular o crescimento da Doutrina e honrar Kardec.

 

Sugestões de títulos de livros que poderiam ser escritos

Investigação e crítica construtiva

  • “Espiritismo em Debate: O que Sabemos, o que Ignoramos”
  • “A Crítica Construtiva como Caminho Espírita”
  • “O Espírito Crítico de Kardec e sua Atualidade”
  • “Erros, Acertos e Lacunas: o Movimento Espírita em Análise”
  • “O Método Investigativo no Espiritismo”

 Revista Espírita e fontes além da Codificação

  • “Revista Espírita: O Laboratório de Kardec”
  • “O que Kardec Pesquisou e Ainda Ignoramos”
  • “Da Revista Espírita à Atualidade: Experiências de Pesquisa”
  • “Léon Denis e o Brasil Espírita: Um Diálogo Esquecido”
  • “Outros Clássicos, Novas Leituras: Delanne, Flammarion e a Pesquisa Espírita”

 Aprofundamento filosófico e científico

  • “Espiritismo e Epistemologia: O que Significa Conhecer?”
  • “Método Científico e Pesquisa Espírita: Possibilidades e Limites”
  • “O Problema do Mal na Perspectiva Espírita”
  • “Liberdade, Determinismo e Reencarnação”
  • “A Filosofia Espírita diante da Ciência Moderna”
  • “Diferenças entre André Luiz e Kardec”

Questões contemporâneas

  • “Espiritismo, Ética e Sustentabilidade Planetária”
  • “Saúde Mental e Espiritualidade: Além da Autoajuda”
  • “Tecnologia, Inteligência Artificial aplicada”
  • “A Religião dos Espíritos em uma Sociedade Secularizada”
  • “O Futuro do Movimento Espírita: Cenários e Hipóteses”

Esses títulos imaginários mostram que o Espiritismo brasileiro ainda tem vastos campos pouco explorados — e que resgatar o espírito questionador de Kardec é talvez uma das tarefas mais prementes para o século XXI. 

Os títulos dos livros espíritas brasileiros são retratos da alma coletiva de nosso movimento.”

Reflexões finais – um olhar para o futuro

A análise dos títulos dos livros espíritas brasileiros revela uma produção ampla, rica e diversificada, mas também marcada por lacunas significativas. A predominância de termos ligados ao consolo emocional e à tradição cristã mostra um Espiritismo que se apresenta mais como religião de acolhimento do que como filosofia de investigação.

Retomar o espírito questionador de Kardec, revalorizar a Revista Espírita e incentivar estudos críticos e filosóficos são caminhos que podem equilibrar a produção literária.

Mais do que identificar o que já existe, este levantamento aponta para o que ainda precisa ser escrito: obras que inspirem crítica construtiva, comparações históricas, diálogo com a ciência e aprofundamento filosófico.

Assim, o Espiritismo brasileiro poderá enriquecer seu acervo e manter-se fiel ao princípio de ser uma doutrina em constante evolução, sem a pretensão da última palavra.