(Reencarnação, demografia
histórica e a hipótese de migrações espirituais entre mundos)
Este ensaio se inicia com a
pergunta: Quantas reencarnações já tivemos na Terra?
A curiosidade é geral.
Temos interesse em saber quantas vidas tivemos, em que regiões vivemos, que línguas
falamos, profissões que tivemos, habilidades, competências, nossos gostos e
preferências, nossas amizades e amores, coisas boas vividas, felicidades.
Entretanto, existe também o
outro lado. O quanto sofremos, o quanto demoramos para aprender, ou até não
conseguimos aprender, as pessoas que magoamos, as tristezas que tivemos, os
acessos de ódio e loucura, o que fizemos de errado, o que deixamos de fazer, as
experiências que nos marcaram e ainda hoje influenciam nosso modo de ser.
A vida é um processo dentro
do determinismo divino de evoluir e conquistar gradativamente novos níveis de
entendimento, de sentimentos, moral e vivência da felicidade interior. A
reencarnação é um instrumento de aprendizado que ocorre em todos os aspectos e
direções.
Nossa origem é a dimensão
espiritual. O Espírito aprende e evolui em qualquer lugar que esteja. As
encarnações são como uma escola em que passamos um tempo para aprender algumas
lições, mas não todas, pois temos muita coisa a aprender e precisamos de
escolas diferentes.
Para a maioria dos
Espíritos que já se decidiram a serem bons, melhorarem e se tornarem cada vez
mais úteis, a chamada erraticidade, o mundo espiritual, é onde aprendemos
bastante, principalmente nos aspectos intelectuais. Temos mais oportunidades de
receber orientação de Espíritos mais adiantados, de frequentar escolas e,
principalmente, de utilizar mais intensamente os nossos recursos de
inteligência sem a intermediação do cérebro, nervos e percepções amortecidas
pela matéria.
Na linha de evolução
podemos supor que, inicialmente, os Espíritos tendem a precisar mais da
encarnação, para no final, ou mais adiante dessa linha, não ter tanta
necessidade.
Existem Espíritos
desequilibrados que permanecem sem encarnar por séculos, assim como permanecem
na espiritualidade muitos Espíritos bons.
Quantas reencarnações já
tivemos na Terra? A curiosidade é legítima. Do ponto de vista espírita, a vida
é um processo pedagógico regido por Leis Divinas: crescemos por meio de
experiências que ampliam inteligência e sentimento. A reencarnação é um instrumento
central desse aprendizado, e a erraticidade — a vida espiritual entre
encarnações — também é escola, sobretudo para estudo, orientação e
planejamento.
A resposta dessa questão se
baseia em três cenários heurísticos de ciclo reencarnatório para um teste de
plausibilidade: ainda que um Espírito possa encarnar muitas vezes em 10 mil
anos, os nascimentos disponíveis na Terra — especialmente antes do século XIX —
não permitem oportunidade igual para todos. A consequência, coerente com a
tradição kardeciana, é uma população espiritual heterogênea e móvel,
com necessárias migrações entre mundos ao longo dos milênios.
“No Universo infinito, a Terra é apenas uma sala de
aula”
Esse estudo levou em conta
os seguintes dados:
- Homo sapiens: ~300 mil anos atrás.
- Civilizações urbanas e escrita: ~5–6 mil anos.
- Agricultura e sedentarização: ~10–12 mil anos.
Aumento populacional na Terra
Marco temporal
|
População
aproximada
|
10.000 a.C.
|
~5.000.000
|
1 d.C.
|
~190.000.000
|
1800
|
~1.000.000.000
|
1900
|
~1.650.000.000
|
1950
|
~2.500.000.000
|
2000
|
~6.100.000.000
|
Hoje
|
~8.100.000.000
|
A evolução espiritual do
homem primitivo certamente ocorreu de forma incipiente e extremamente
vagarosa. Por essa razão, foi selecionado o período dos últimos 10 mil anos que
levou ao surgimento da sedentarização e das primeiras cidades, proximidade
social e fortalecimento da família, desenvolvimento racional, criação de
ferramentas, desenvolvimento de civilizações complexas, aumento da produção de
alimentos, e a expansão populacional. Período civilizatório da
humanidade.
Linha do tempo
essencial
•
~300 ka: surgimento
do Homo sapiens.
•
≥50 ka:
intensificação do comportamento simbólico.
•
~12–10 ka:
agricultura e sedentarização.
•
~6–5 ka: cidades,
Estados e escrita.
•
População (aprox.):
10.000 a.C. ~5 mi • 1 d.C. ~190 mi • 1800 ~1,0 bi • 1900 ~1,65 bi • 1950 ~2,5
bi • 2000 ~6,1 bi • hoje ~8+ bi.
É tentador supor um ciclo
fixo (vida + intervalo espiritual). Mas a literatura doutrinária indica grande
variabilidade conforme as condições morais, provas, missões, estagnações e
contextos históricos. Portanto, melhor adotar cenários ilustrativos
(heurísticos), apenas para organizar o raciocínio:
Três cenários
A (80 anos)
|
B (150 anos)
|
C (250 anos)
|
Ritmo curto;
muitas passagens recentes
|
Meio-termo
plausível
|
Intervalos longos;
foco em estudo/planejamento
|
Mesmo que um Espírito pudesse
encarnar dezenas de vezes em 10 mil anos, não há como todos terem o mesmo
número — simplesmente porque faltariam nascimentos durante longos períodos em
que a população humana foi pequena.
- A distribuição real é assimétrica: alguns com mais
vidas na Terra nesse intervalo, outros com poucas (ou nenhuma), outros em
longos hiatos.
- O “coorte espiritual terrestre” não é fechado: ao
longo dos milênios, há entradas e saídas — e a pluralidade dos mundos
habitados demonstra sua utilidade.
Consequências
doutrinárias
- Heterogeneidade individual: trajetórias muito distintas (intervalos
curtos/longos, missões, estagnações).
- Migrações entre mundos: a pluralidade dos mundos não é só geográfica; é
pedagógica. Espíritos circulam por esferas compatíveis com seu mérito e
necessidade (condições evolutivas). Isso concilia bastante a capacidade
individual de encarnar com a oferta histórica limitada de “vagas” na Terra
em muitos períodos.
Conclusão — provocativa
O estágio atual da
humanidade não requer que todos tenhamos reencarnado muitas vezes exclusivamente
na Terra nos últimos 10 mil anos. Os dados populacionais sugerem fortemente uma
circulação espiritual entre mundos, com entradas e saídas no tempo. Em vez de
“nativos” estritos, talvez sejamos, em boa medida, viajantes do infinito —
alguns de longa data por aqui, outros mais recentes, outros de partida.
A soma de vidas possíveis não cabe nas vagas
disponíveis para encarnação.
Havia feito esse estudo quase
dez anos atrás, chegando à conclusão didática da média de 25 encarnações dos
últimos dez mil anos. Submeti agora à Inteligência Artificial (ChatGPT 5.0) que
trouxe novos elementos, o que resultou nessa atualização.
Mas, afinal qual é o
número de encarnações na Terra?
Depende do cenário ou da
frequência:
- Alta frequência (ciclo curto, forte vínculo à Terra): 15–35
vidas em 10 mil anos.
- Média frequência (ciclo ~intermediário): 8–22 vidas.
- Baixa frequência (ciclo longo, hiatos maiores ou parte fora da
Terra): 4–12 vidas.
A maioria ficaria na faixa
média entre ~6 e ~20.
Vamos considerar agora o
atual estágio evolutivo da humanidade. Difícil, não é? Mesmo assim, podemos inferir
que não somos muito melhores do que as pessoas do século I, por exemplo. Temos
mais intelecto e mesmo senso moral, não obstante a enxurrada de violências publicadas
pela mídia.
Podemos usar a
classificação de Kohlberg (1) na sua Teoria de Desenvolvimento Moral:
Sobre os estágios do desenvolvimento moral
Nível A - Pré-convencional (Estágios 1 e 2): A moralidade está ligada à obediência e ao autointeresse, onde as
regras são determinadas pelas autoridades, como os pais ou figuras de poder.
Nível B - Convencional (Estágios 3 e 4): Aqui, as pessoas passam a valorizar as relações interpessoais, bem
como as normas sociais. As regras são importantes, mas também há consideração
pelas expectativas da sociedade.
Nível C - Pós-Convencional (Estágios 5 e 6): Neste estágio, a pessoa começa a internalizar seus próprios
princípios éticos e morais, às vezes divergindo das normas sociais se estas
violarem princípios éticos mais profundos. Passam a considerar os diferentes
valores, opiniões e crenças de outros.
Nessa teoria, a humanidade parece
estar dividida em todos esses estágios. A maior parte vivendo os níveis A e B, mas
com uma parte também nos estágios 5 e 6. Parece razoável.
A questão de fundo é: podemos
avançar do Nível A, para os subsequentes em poucas encarnações? A lógica e a
literatura espírita apontam para um caminho muito longo com muitas reiterações.
O arremate desse raciocínio
é que não temos origem no planeta Terra e que tivemos mais encarnações em
outros mundos! Isto é um ensaio opinativo com o propósito de oferecer uma
análise crítica sobre um tema.
Brincadeiras à
parte, somos todos alienígenas!
Mini glossário
Erraticidade - Vida do Espírito
fora do corpo físico, entre encarnações.
Coorte espiritual terrestre - Conjunto de Espíritos em relação com a Terra em um período dado
(encarnados + desencarnados).
Migração entre mundos - Deslocamentos educativos
por afinidade/necessidade, coerentes com a pluralidade dos mundos.
Nota de
omissão. Todo este
raciocínio foi desenvolvido sem considerar a informação da literatura espírita (2),
de que há muito mais Espíritos desencarnados do que encarnados. Caso se admita esta
hipótese, a conclusão sobre migrações entre mundos fica ainda mais reforçada —
mas deixamos essa informação fora da linha de raciocínio, para manter o texto
mais crível aos olhares mais resistentes.
Nota
metodológica — probabilidade
de “mundos-escola” parecidos com a Terra
Por que
supor destinos compatíveis ao perispírito?
Nas últimas
três décadas confirmamos mais de 6.000 exoplanetas e o número cresce a cada
semana, indicando que planetas são comuns na galáxia [NASA].
Estudos a
partir do Kepler estimam que uma fração não desprezível de estrelas tipo
Solar possuam planetas rochosos na zona habitável (cenários variam conforme
critérios e correções estatísticas). Trabalhos clássicos encontraram taxas na
casa de ~20% para “Terralikes” (planetas parecidos com a Terra). Em síntese: há
muitas “salas de aula” potencialmente preparadas.
Como a Via
Láctea tem centenas de bilhões de estrelas (ordem de 10¹¹), mesmo taxas
modestas implicam bilhões de candidatos a ambientes terrestres. Logo, não é
especulação gratuita supor mundos compatíveis para encarnações pedagógicas,
exigindo ajustes menores do perispírito do que migrações para biosferas
radicalmente diferentes.
Um
argumento biológico
A convergência
ecológica, ou evolução convergente/adaptativa, descreve o surgimento de
características semelhantes (morfológicas, fisiológicas ou comportamentais) em
organismos sem parentesco próximo, devido a pressões ambientais ou ecológicas
semelhantes.
Por analogia, biosferas
temperadas podem convergir para morfologias e ecologias funcionais semelhantes,
facilitando a adaptação perispiritual. É uma inferência, mas amparada por um
princípio evolutivo bem documentado.
Ivan Franzolim
(1)
Lawrence Kohlberg (1927 – 1987), psicólogo e professor Universidade de Chicago e Harvard.
(2)
EMMANUEL. Roteiro. Psicografia de Chico Xavier. Rio de Janeiro: FEB, 1952. [Ano
com população de 2,5 bilhões de pessoas e 20 bilhões desencarnados]